21.11.12

Do Contraponto

Vivo num mundo alternativo. Não tão alternativo - é claro - pois hoje o mundo e a sociedade tem tantas facetas que mesmo o alternativo é, de certa forma, mainstream. Vivo então - talvez - entre uma minoria.

Gosto tanto de ler e fuçar e em tudo que vejo há tantas imagens, vídeos. Uma imagem vale por mil palavras. Talvez. Eu já acho que um silêncio bem colocado pode valer por mil explicações - ilustradas ou não. Acho que um sentimento escrito pode ser mais forte do que imagens. Ou você prefere um cartão de dia dos namorados a uma carta de amor sincera?

Esse mundo onde eu vivo parece uma revista dos anos 50, onde (ou quando) as pessoas tinham o costume de ler mais. Esse mundo onde a palavra escrita ainda é mais importante.

Tenho preguiça, é claro, como todos desse mundo moderno. Mas minha preguiça é por textos mal escritos ou prolixos quando o que busco é informação. Esses textos não consigo ler: pulo ou viro a página.

Oposto a isso estão os textos bem escritos. Esses, mesmo quando longos, vão-se rapidamente. Cesso a leitura para fazê-los durar, para que não acabem e ainda possa saborear aquelas palavras.

6.11.11

Palavras

Acontece com todos ou só com os condenados com aspiração à poeta como eu? Sou aficionado por palavras. Me apaixono por várias arrebatadoramente de uma forma barroca, em que as quero utilizar e, não obstante, as economizo para não se diluirem.

Adoro escrever 'Quão', justamente por ser deixado de lado. O quão estranho soaria uma frase em que eu utilizasse os vocábulos que se perderam para a maioria dos leitores? Gosto de algumas pelo som, outras pela imagem e outras ainda pela raridade. 'Otário' ainda é um xingamento mais forte que 'Filhadaputa', tão usado e desgastado.

Mesmo a inspiração - tão rara em alguns momentos - parece transbordar depois que cruzo com uma palavra instigante. Começo a tentar encaixá-la no meu dia desesperadamente, mesmo que 'fenecer' não caiba na conversa com o caixa do supermercado. Só sossego quando a coloco pra fora ou crio um texto poesia relatório ou haikai onde a palavra possa viver em harmonia.

Nostalgia

A nostalgia começa assim de repente, num domingo a tarde quando você tá assistindo tv sem querer pensar na vida. É quando a vida pesa sobre você.

De uma hora pra outra você acha que o Indiana Jones só deveria ter tido 3 filmes mesmo, que o Star Wars era bom só com os 3 primeiros. Naquele momento, naquela tarde, no intervalo comercial talvez, você sente aquele aperto, parece uma tristeza com a músiquinha do comercial que parece não fazer sentido - pelo menos não diz nada à você - mas na verdade é outra coisa: é uma saudade daquela outra música - que também tocava num comercial - mas daquela outra época.

Ela vem sorrateira e quando você percebe tá procurando aquele álbum de figurinhas da olimpíada de Los Angeles que você completou ou aquele do Ploc Monsters que só faltava uma. No lugar deles encontra aquele flauta doce que tocava no colégio e isso já te joga nem pras aulas de música nem pra 'que fim levou mesmo o meu violão?', mas praquela roda - foi na praia ou no sítio? - dos amigos da época. E a nostalgia é engraçada, porque a gente continua amigo de uns e não mais de outros, mas pra ela nem os que ainda são amigos são mais os mesmos: naquela época era tão diferente. Não é?

E todo esse sentimento é bom enquanto é lembrança: que nem um álbum antigo de fotos que a gente tira da prateleira pra ver, fica ali debruçado, hesita, mas depois guarda de novo. Só  quando a gente perde tanto tempo pensando no que aconteceu entre o lá e o aqui. Fica pensando 'E se...', ai vira doença.

A nostalgia nem sempre tem a ver com a vida estar melhor ou pior. Às vezes você ganha mais hoje e pode fazer mais coisas ou tá com alguém que gosta hoje e antes estava sozinho. Nostalgia não tem a ver necessariamente com felicidade, às vezes é só porque antes era mais fácil e a gente não precisava planejar nem o dia seguinte.

4.8.10

New day. New life... Not feeling so good.

Acabei de assistir o "Foi tudo um sonho", do Sam Mendes - o mesmo de Beleza Americana - e adorei. Mas tenho que ser sincero: foi uma porrada pra mim.



É realmente um filme pra gente parar e pensar na vida... Principalmente eu que eu que me acho tão especial e sempre me vendi por tão pouco. Estou mudando de vida - ou tentando - e já percebi que comigo a mudança ou é radical ou dificilmente vai acontecer. Difícil ou muito lentamente. Não tem um meio termo.



Talvez seja tudo isso que compõe minha vida nesse momento. Talvez. A verdade é que parece adolescência: tudo mudando a sua volta e você sem saber exatamente como lidar com tudo aquilo.



Chega de só escolher entre os caminhos que se apresentam à minha frente. Chegou a hora de fazer meu próprio caminho.



Sinto isso dentro de mim, mas não sei ainda o que fazer.

22.6.10

Das pessoas

Lembro do Proust no Em Busca do Tempo Perdido falando que ele cresceu nos momentos em que sofreu. Embora ele seja prolixo pra chegar nessa constatação, vale a pena e eu concordo absolutamente. Essa semana, porém, estava pensando num outro aspecto: o quanto cresci com as pessoas com quem vivi.

E ao pensar nisso me dei conta de quanta sorte eu tive até hoje. Essa é uma experiência difícil de se comparar com as de outras pessoas - é verdade - e por outro lado eu gosto muito de falar dos meus amigos - mais do que a média das pessoas - e em geral as pessoas à minha volta ficam impressionadas com os tipos que eu conheço e conheci.

Longe de colecionar amigos exóticos, eu tenho sim muito orgulho de tê-los ou tê-los tido como amigos pelo tanto que me ensinaram e o tanto que eu pude aprender. Eu gosto de ouvir as pessoas, principalmente as que admiro em algum sentido, e isso me ensinou muito. Nem acredito que eu saiba tanto assim ouvir as pessoas em geral, mas nos momentos que consegui fazê-lo pude perceber um pouco de suas histórias de vida, o quanto todos sofrem, quanto tem dificuldades, mas também pude ver como grande parte do que as diferencia é como encaram essas situações. E sempre, sempre serve pra você ter um parâmetro pra sua própria vida.

Não acho que exista um certo e errado absolutos. Não consegui entrever em todas essas histórias uma receita pra minha vida. Na verdade nem procurei. O que eu vi sim foi o certo e errado para cada um de acordo com a visão de mundo de cada um (isso me leva a um outro desatino sobre que o que modifica o seu karma varia com o que cada um acredita, mas isso é papo pra outro post).

Mas tudo isso na verdade é só uma tentativa de amenizar o quanto essas pessoas que passaram - e marcaram tanto - fazem falta hoje na minha vida.

E então

E foi assim...

Numa tarde, depois de muito sonhar - e como sempre viajar em seus desatinos - ele percebeu que tudo tinha mudado. Não tudo no sentido absoluto, mas muito do que havia a sua volta, muito com o que ele se preocupava, muito do que lhe era importante, isso tudo tinha mudado.

Alguns tinham falecido - quão irreal isso parecia - outros mudado para outros países, grandes amigos que não mais encontrava, trabalhos novos com aqueles que ainda não eram nem amigos, nem colegas, nem nada ainda. O simples fato de ter aceitado essas coisas era perturbador.

É certo que ainda havia amigos. Ainda havia família. Ainda. Ele não podia evitar, porém, de sentir aquela cólica que outrora fora uma depressão e hoje era apenas vazio. Um vazio de significado.

Estava confiante, a esperança mais uma vez o acompanhava e, mesmo assim, vazio.

Por estar confiante foi uma constatação (mesmo sabendo que toda sua estrutura interna estava perturbada), mas foi assim que ele constatou que em alguns momentos ter tudo pode ser como não ter nada.

12.2.10

Eu Tenho um Lado Bobo

Pode parecer pejorativo - talvez até seja - mas eu tenho um lado bobo. E eu gosto dele. O cultivo mesmo um pouco.

Tendo a ser cético, frio e descrente a maior parte do tempo, e é meu lado bobo que me deixa acreditar nas pessoas, que me deixa levar em frente um devaneio louco ou um sonho romântico. Acho que nós criamos muitas barreiras para nos protegermos, mas esse meu lado bobo - um lado meio ingênuo, meio criança - me permite olhar o céu e ver só o azul e não a tempestade, ou olhar para alguém e acreditar na bondade que todos temos.

É esse lado que me permite reconhecer um sentimento bobo, talvez vergonhoso, mas que olho sem preconceito pra ver de onde ele nasce. É o lado bobo que não julga o tempo todo, mas julga quando a sociedade diria pra não julgar.

Certamente que ele me põe em enrascadas também: falo às vezes sinceramente, demonstro sentimentos que deveria guardar...

Já tive vergonha do meu lado bobo, mas desde que descobri que ninguém é perfeito mesmo, não o ostento, mas o porto com orgulho.

Mudou

Desde 27 de agosto de 2009, minha vida mudou. Drasticamente até posso dizer. Parece até um Plano de Crescimento à la JK: 8 anos em 8 meses. Embora aparentemente pouco tenha mudado, eu aprendi muito.

Aprendi a responder só o que eu sabia, e não como se eu fosse sempre o dono da verdade. Aprendi a escutar - embora eu sempre ouvisse muito por falar pouco - realmente prestar atenção é algo diferente. Aprendi (ou redescobri) que dar pode ser tão prazeroso quanto obter. Às vezes até mais realizador, porque ver a alegria no rosto de alguém é das melhores sensações que existem nessa vida.

Aprendi que nossa alegria ou tristeza dependem só de nós mesmos. Alguém pode nos deixar tristes, mas nossa cura está aqui dentro.

Mas, principalmente, reaprendi a chorar. Chorar de tristeza, de alegria, por algo que foi, algo que ainda será, mas o que é mais importante, chorar para por pra fora e não guardar tudo dentro do peito só pra mim.

30.6.08

(disclaimer)

"Ouso viver sem lembranças", dizia o poeta. Eu, pessoalmente, ouso escrever sem revisão - exceto a ortográfica.

Porque eu não uso carro

Meu sogro ainda não entendeu. Ou entendeu mal: não é que eu não goste de dirigir, adoro. Mas gosto mesmo de viajar, de ANDAR de carro, não ficar parado. O trânsito me estressa. Muito.

Não é que eu pense na natureza e tudo mais - até penso, mas isso não é determinante - se pudesse andar de jaguar com motorista eu andaria. Nem gosto de esperar horrores por um ônibus que demora, ou de metro cheio, ou do ônibus que passa direto do seu ponto. Odeio, e com todas minhas forças.

Mas ainda prefiro esperar um ônibus ou ir de metro do que pegar o carro sempre que dá. Se puder ir andando ainda melhor. Resultado em grande parte do tempo em que fui viver no mundo das fadas (como em as Brumas de Avalon). Hoje esse tempo parece mais uma lembrança nublada, que trás mais sentimentos (muito mais) do que imagens bem formadas. Esses sentimentos, entretanto, deixaram marcas indeléveis e profundas em mim.

Gosto de ler no ônibus ou no metro, me sinto ganhando tempo, e não perdendo como no carro. Gosto de andar ouvindo música ou ouvindo a vida. Me dá tempo de pensar.